Na véspera do Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março em várias partes do mundo, o site da Assejur publica uma análise da professora e advogada Ruth Manus. O texto, intitulado O que é ser feminista, é uma reflexão breve e direta sobre a importância do feminismo na luta por uma sociedade mais justa.

Confira abaixo.

 

 

 

O que é ser feminista

 

Semana passada fui dar aula sobre assédio sexual num curso de pós graduação em São Paulo. Cheguei na sala, composta predominantemente por advogados, e perguntei: “Quem aqui se considera feminista?”  Silêncio. Uma moça levanta timidamente o braço. Dois ou três caras fazem comentários baixinho e riem. Disse: “Ok. Vou fazer duas leituras rápidas para vocês”. Continuei: “Dicionário Houaiss da língua portuguesa: feminismo: teoria que sustenta a igualdade política, social e econômica de ambos os sexos”. e mais“Dicionário Jurídico da Professora Maria Helena Diniz: feminismo: movimento que busca equiparar a mulher ao homem no que atina aos direitos, emancipando-a jurídica, econômica e sexualmente.” Esperei um pouquinho e mudei a pergunta: “Quem aqui pode me dizer que não se considera feminista?” Ninguém levantou a mão.

Pois é. Tenho a sensação de que 99% do mundo não entendeu até agora o que é feminismo. Porque, se as pessoas entendessem, quase todo mundo teria orgulho de se dizer feminista. Não vou perder tempo aqui dizendo que feministas não são mulheres que não se depilam, não usam sutiã e não transam. Primeiro, porque ser feminista não tem a ver com ser mulher; tem a ver com ser humano. Segundo, porque nunca entendi que raio que os pelos têm a ver com posições ideológicas. Terceiro, porque sutiã serve para sustentar peitos, não para sustentar ideias. E, quarto, porque eu já vi gente deixar de transar por causa da igreja, por causa de promessa, por falta de opção, por infecção ginecológica, por problemas de ereção… mas por feminismo nunca vi. Alguém já viu?

Enfim, acho que ser feminista não é bom ou ruim. Ser feminista é necessário.

Uma vez ouvi uma amiga dizer: “A mulher que diz que nunca foi discriminada é apenas uma mulher muito distraída”. É simples assim. Não precisamos ir até o Oriente Médio. Não precisamos ir até tribos africanas. Não precisamos ir ao sertão do nordeste. Não precisamos ir até a periferia de São Paulo. Não precisamos sair dos nossos bairros. O machismo que limita, que agride, que marginaliza, que ofende, que diminui, mora ao lado, dorme por perto.

E agora, quem poderá nos defender? O feminismo. O mesmo feminismo que nos tornou civilmente capazes e independentes perante a lei. O mesmo feminismo que nos possibilitou votarmos e sermos votadas. O mesmo feminismo que segue lutando diariamente por uma sociedade mais justa para mulheres, homens, mães, pais, filhas, filhos, trabalhadoras e trabalhadores.

No século XIX, as brilhantes irmãs Brontë escreviam através de pseudônimos masculinos por saberem que suas obras não seriam aceitas na sociedade se soubessem que as autoras eram mulheres. Se não fosse o feminismo, eu provavelmente também não estaria escrevendo aqui neste momento. Pelo menos não como Ruth.

O feminismo não é de esquerda nem de direita. Não é só para mulheres nem é só para homens. Não é ameaça. Não é um estranho.

Mas perceba que quando você trata os feministas na terceira pessoa do plural, excluindo-se deste rol, você está afirmando não fazer parte do grupo que prega a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres. Pense bem de que lado você quer estar.

Se você percebeu que é feminista, fique tranquilo. Nós não contaremos para ninguém. Mas, sabe? Se eu fosse você, eu sairia contando para todo mundo. Porque ser feminista é lindo, é importante, é sinal da inteligência e da decência de qualquer ser humano. Como diz o lindo livrinho da nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie (leiam, ele é pequenino e indispensável): “Sejamos todos feministas. E o mundo será melhor a cada dia. Pode apostar.”

 

Ruth Manus é advogada e professora universitária.