O 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, vai ser palco de manifestações em várias cidades do mundo. Tem sido assim nas últimas décadas, com o avanço dos movimentos feministas que lutam por igualdade de direitos e contra a opressão de gênero. Entre os registros que serão feitos até o domingo, data da comemoração, o site da Assejur reproduz um texto publicado em 2017, que aborda a questão da mulher na sociedade contemporânea. Confira abaixo.
Sem homenagem
Mário Montanha Teixeira Filho
Um amigo meu me cobrou uma mensagem para o Dia Internacional da Mulher. Respondi-lhe que não escreveria nada, que não tinha tempo, que tudo o que dissesse seria uma repetição vazia de clichês. De fato, acho que estou cansado. Não vou discorrer sobre a importância da data, sobre o papel da mulher na luta contra a opressão, sobre os desafios que ainda existem, sobre a vida e o amor, o sexo e o trabalho, etc., etc., etc… Isso já foi retratado, com mais ou menos poesia e sinceridade, por muita gente. Não serei eu a pretender a verdade definitiva em torno de um assunto tão delicado, complexo e belo.
Lamento que o Dia Internacional da Mulher esteja cada vez mais incorporado à institucionalidade. Daí a ojeriza que me provocam as frases feitas, quase sempre ditadas por grandes reacionários, machões incorrigíveis, a exaltar a sensibilidade da mulher. Há hipocrisia nesse discurso, que encara o mundo feminino como mero detalhe, perfumaria para amansar o cotidiano atribulado e grave dos homens. Como há hipocrisia nos mimos patrocinados no 8 de Março por empresários, banqueiros e canalhas de todos os tipos, especialistas em reservar algumas poucas horas do ano para homenagear o óbvio e, logo em seguida, exibir seus preconceitos estúpidos, doses cavalares de egoísmo e violência.
Também me soa estranha, porque excessiva, a descrição da mulher como sangue, útero, corpo, alma e sofrimento, recorrente em textos, poemas engajados e manifestos políticos. Compreendo a mensagem, concordo com ela, mas não gosto da forma melodramática de que se veste.
Espero, apenas, que a luta das mulheres mantenha, para sempre, a sua natureza classista, libertadora, ampla e magnífica. Por isso respondo ao meu amigo que permanecerei em silêncio neste dia. Um silêncio calmo e contemplador da essência profundamente feminina da vida, da minha vida. Se fosse original repetir a palavra de Gil, eu repetiria com o coração: “minha porção mulher, que até então se resguardara / é a porção melhor que trago em mim agora / é a que me faz viver”.
Como o dito já foi dito, porém, recolho o verbo.
Mário Montanha Teixeira Filho é consultor jurídico aposentado.